Até o último homem

visões cariocas da administração armada da vida social

Pedro Rocha de Oliveira, Felipe Brito, Marcos Barreira, Maurílio Lima Botelho, entre outros.

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Até o último homem
  • autor: Pedro Rocha de Oliveira
    Felipe Brito
    Marcos Barreira
    Maurílio Lima Botelho
    André Villar Gomez
    Javier Blank
  • prefácio: Marildo Menegat
  • orelha: Adriana Facina
  • organizador: Felipe Brito
    Pedro Rocha de Oliveira
edição:
1
coleção:
Estado de sítio
selo:
Boitempo
páginas:
272
formato:
21cm x 14cm x 2cm
peso:
293 Gramas
ano de publicação:
2013
encadernação:
Brochura
ISBN:
9788575592878

A cidade do Rio de Janeiro tornou-se um implacável laboratório de gestão da barbárie

Fruto de uma promissora fornada de jovens intelectuais de esquerda que buscam novas bases teóricas para a crítica social, Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social, organizado por Pedro Rocha de Oliveira e Felipe Brito, analisa o processo de 'legitimação' das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em um quadro de colapso e dissolução da sociedade perante a ocupação militar das favelas cariocas. O Rio de Janeiro aparece como primeiro sintoma de que o desenvolvimentismo ufanista do Brasil nos anos 1950 e 1960 não poderia ir além do fracasso de sua própria autoimagem: 'um país do futuro em ruínas'. Para os autores, a invasão militar das favelas cariocas é emblemática: as UPPs revelam o modus operandi da gestão do desmoronamento da sociedade brasileira pelo exercício de um poder político fundamentado na persuasão por meios bélicos. Em um quadro pautado por megaeventos, valorização imobiliária e formação de milícias, o Rio de Janeiro parece revelar as tendências mais macabras da política nacional. À sombra do mito desenvolvimentista, a cidade deixou de ser a 'velha caixa de ressonância nacional' - na qual se jogavam lances decisivos da política do país -, para tornar-se um 'implacável laboratório de gestão da barbárie'.Retraçando a trajetória da presença do exército nas ruas, da Operação Rio à ocupação do Complexo do Alemão, a coletânea revela aos poucos a relação entre a militarização da segurança pública e a militarização da vida cotidiana. No paradigma da ocupação permanente posto pelas UPPs, 'a oposição entre estado de direito e estado de exceção é resolvida numa unificação'.O aparente sucesso da implantação das UPPs surge como agravante de uma reestruturação das formas de operação do crime. As políticas de ocupação permanente têm como saldo o estilhaçamento, e não o fim da venda de drogas ilegais, que continua a funcionar nas favelas ocupadas pelas UPPs, sob formas renovadas, como meio de corrupção: 'A crise tornou os 'comandos' da droga mais fragmentados, irracionais e autodestrutivos. Eles deixam de representar uma alternativa econômica, ainda que perigosa e ilegal, e tendem a se tornar núcleos de pura violência.'A dificuldade em definir um horizonte emancipatório manifesta-se de forma mais surpreendente na questão urbana. Se o aumento irrestrito de favelas já era sintoma conhecido do sucateamento do planejamento público, programas como o Favela-Bairro e o estímulo do 'empreendedorismo dos pobres' levam o problema a um novo patamar. À medida em que a favela é aceita como modelo dominante de organização espacial, ela se torna cada vez mais suscetível a processos de racionalização interna, repondo as tensões da 'gentrificação' e da valorização imobiliária. O resultado é um processo generalizado de 'favelização da cidade'. O comentário afiado sobre produtos culturais recentes, do funk ao cinema nacional, é a pedra de toque dessa análise original da realidade brasileira. A leitura crítica dos ditos 'filmes de favela' irá mostrar como Tropa de elite, Tropa de elite 2, Cidade de Deus, 5x favela e Salve geral, não são apenas parte de um processo de espetacularização da miséria e da violência, em sintonia com as políticas de marketing das cidades, mas, também, peças fundamentais na constituição do imaginário nacional.